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CONTROL Z
2

 

Setembro

 

2009
10

 

Outubro

 

2009
Yonamine - CONTROL Z
Yonamine - CONTROL Z
Yonamine - CONTROL Z
Yonamine - CONTROL Z
Yonamine - CONTROL Z

Nada de nosso temos

Senão o tempo

Que gozam justamente

Aqueles que não têm paradeiro


Anónimo, frase graffitada numa rua em Lisboa



No seu conjunto, poderíamos designar as obras de Yonamine (n.1975) diários, arquivos, ou mesmo arqueologias. Do tempo, do passado e do presente (do reinventado, reactualizado), da vida. Da dele e da do Mundo. Talvez por este facto, a escolha para o título desta exposição seja tão significativo. Control Z é uma ferramenta da linguagem do computador que permite fazer UNDO ou voltar atrás mas que aqui se torna quase um manifesto acerca do acumular de experiências de onde verdadeiramente podemos retirar uma lição.


Na exposição patente na galeria Cristina Guerra, assistimos a uma cristalização momentânea deste efémero conjunto de referências, desde a história da arte, passando pela política e pelo quotidiano do artista, que nos permitem reflectir, através da sua «estética de proposta» sobre um conjunto de preocupações actuais e passadas que poderemos entender como eternas. Desta forma, tenta-se resistir ao esquecimento. Como se demonstra em (I shoot can,2009) o movimento espiralado e impressionista das pegadas do artista serve para nos lembrar que estamos todos na mira do alvo. A forma como constrói a obra (em puzzle) e o seu processo de acumulação e fragmentação aleatória, quase surrealista, muito nos poderá falar sobre como, hoje, somos todos identidades fragmentadas, espelhos partidos. Identidades em processo, em fluxo, frágeis e sujeitas a vários tipos de violência.

No seu modus operandi, Yonamine propõe-nos um universo mais coincidente com a autenticidade da vida, contrariando a visão mais maquinal e homogénea de um mundo que hoje em dia se pretende «higiénico» e perfeito. Como demonstram alguns dos símbolos nas suas obras, aqui, é proibido lavar, passar a ferro ou colocar tudo direitinho. Ao contrário de outros artistas que aqui poderemos evocar, tal como Basquiat, todo este processo é, no entanto, elaborado numa linguagem pop de grande jovialidade. Como se o riso, no seu entendimento derrisório, fosse a arma mais própria de catarse. Talvez seja por este motivo que o mesmo nos convide a chillar em cima de sacos de areia que nos lembram a praia onde convivem (pacificamente ou não) George W. Bush com a imagem das kinguilas (mulheres que fazem câmbio de divisas nas ruas).


Esta ambivalência entre o sério e o lúdico, provoca curtos-circuitos interpretativos no observador pois esta instalação também se pode assemelhar a uma traiçoeira trincheira onde somos todos convocados a partilhar a já mencionada culpa da nossa fatal e inevitável humanidade. É igualmente uma menção à nossa capacidade de optar, entre um exercício de reflexão e uma forma de pura contemplação.


Yonamine reúne um conjunto de situações que oscilam entre um passado, um presente e um possível futuro, oferecendo um conceito de tempo que escapa a limitações. Como na linguagem dos DJ´s de reggae, podemos, nas suas obras pensar no conceito de Rewind (voltar atrás) e ao mesmo tempo estarmos situados no actual. A evocação do seu passado faz-se de várias maneiras, desde a tradição africana (como se mostra na referência aos desenhos da areia dos quiocos do nordeste de Angola) às memórias angolanas com a procura de um tipo de azul (Kind of Blue, 2009), à maneira de Yves Klein, inspirado nos vários tons «personalizados» dos kandongueiros (táxis), ou ainda com o uso das fotografias antigas de jornais recolhidas na feira da Ladra. A estas o artista dá uma nova vida, recontextualizando-as.


Em High Tech Retro, 2009, encontramos uma outra forma de reactualização. A «Última Ceia», pintada por Da Vinci, serve ao mesmo tempo como trampolim para uma reflexão sobre a história da arte revisitada e como comentário «político» e irónico ao falar-nos da crise financeira actual que, na verdade, existe desde 1975, altura em que a nossa «messiânica» hegemonia começa a ruir, entre outros factores, pela independência angolana. As moscas presentes na tela verificam, assim, a afirmação de uma certa mentalidade parasitária presente hoje em dia na cultura portuguesa.


Isto é dizer pouco acerca de um mundo tão rico e complexo que se torna a obra do artista. As suas telas, tal como este texto, têm de ter uma contenção «física», mas não necessariamente limitativa. Pelo conjunto vasto e labiríntico de temas e formas, Yonamine, oferece-nos a possibilidade de viajarmos para além do espaço físico da tela. «Se não fosse pintor, era um escritor, ou mesmo um músico… é isso… para mim tem tudo a ver com comunicação».


Impossível fazer CONTROL Z… e ainda bem.



Carla de Utra Mendes




CONTROL Z é devagar, divagar sobre a desordem natural das coisas até tecer,

até apetecer divagar, devagar na ordem des-natural das coisas,

porque pensar dói.


Kalaf Ângelo

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