Exposição Coletiva

curadoria Sérgio Mah
Plano de Contingência
17

 

Novembro

 

2022
12

 

Janeiro

 

2023
Plano de Contingência
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SÉRGIO CARRONHA
FRANCISCA CARVALHO
FERNÃO CRUZ
GONÇALO PENA


Esta exposição reúne quatro artistas com percursos e imaginários criativos claramente distintos. Porém, uma observação mais atenta permite discernir aspectos comuns, atitudes similares e modos convergentes de encarar a prática artística. Desde logo, porque são artistas que prezam as contingências dos processos criativos, considerando as condições intrínsecas a cada fazer artístico, no desenho, na pintura ou na escultura. É também notório que apreciam meios parcos, simples e “anacrónicos”, numa economia de processos em que predomina o trabalho das mãos e as acções do (seu) corpo.

As obras aqui reunidas divergem das agendas e das posturas programáticas que abundam na arte dos nossos dias. Num sentido diverso, são artistas que se distinguem pelo desejo em indagar as oportunidades que emanam da aventurança da criação artística. Diante do plano (do papel, do tecido, da tela ou do olhar sobre uma porção de terra crua) são desencadeados movimentos espontâneos, livres e sensíveis, sem destino antecipado, em que as formas, as imagens e os objectos são possibilidades desveladas no decurso de uma disponibilidade física e mental em que o fazer e o imaginar colaboram e se articulam de modo fecundo e imprevisível.

Este entendimento do cerne da criação explica algumas das características que atravessam o conjunto das obras aqui reunidas: vemos formas que vacilam entre a figuração e a abstração, entre a vida empírica e os domínios da ficção, entre o terem sido e o estarem a caminho de serem algo parecido com o mundo que conhecemos. A coerência entre motivos, formas e temas nem sempre é imediata ou discernível, também porque cada obra exprime realidades, circunstâncias e estímulos únicos e diferenciados. São obras que projectam um tempo peculiar e intuitivo, o tempo que advém da imaginação, no qual se projectam todas as hipóteses, desejos, ecos e reverberações, até ao momento em que o artista vislumbra uma possível suspensão, provisória ou eventualmente definitiva.

De Sérgio Carronha (n. 1984) incluem-se um conjunto de peças escultóricas realizadas entre 2010 e 2014. Durante as suas habituais caminhadas por territórios despovoados, maioritariamente na zona da Serra de Sintra e em Terena, no Concelho do Alandroal, o artista encontrou e recolheu porções de terra crua (argilas, margas, rochas sedimentares). De imediato ou depois no atelier o artista esculpiu e moldou os materiais da terra com as mãos e com o recurso a alguns utensílios. Sem uma ideia prévia, a configuração de cada objecto surgiu de forma instintiva e sensível, ou seja, foi tomando forma a partir do momento em que as mãos e os olhos (na verdade, o corpo todo) assimilam as características singulares da matéria-prima (ductilidade, rigidez, cor, consistência, textura), mas também como expressões mnemónicas de uma dada vivência na paisagem. O resultado são objectos de ressonâncias poéticas, inquietantes pela sua estranheza e ambiguidade formal, mas que se definem também pela sua fragilidade física – por não terem sido submetidos à cozedura habitual na cerâmica, continuam a ser porções instáveis de terra crua.  

Em relação a Fernão cruz (n. 1995) apresenta-se uma série de trabalhos realizados no corrente ano. Predomina um conjunto de pinturas a óleo que se distingue pela expressividade da espessura da tinta, o que indicia um tempo criativo prolongado feito de acumulações de camadas de matéria, de cores e de imagens. Com efeito, o que vemos é o que finalmente se sobrepôs a outros estratos, a outras pinturas (o artista revela que eram muito diferentes, em termos estéticos e temáticos, ao que agora vemos). São obras que lidam com um largo espectro pictórico, entre incursões abstractizantes e experiências figurativas de traços densos e temperamentais. É uma prática da pintura que implica espontaneidade, ousadia e disponibilidade, como factores que animam o enfrentamento com a tela, um corpo-a-corpo em que a biografia e as emoções contaminam os gestos e as inflexões que a pintura vai tomando.

Francisca Carvalho (n. 1981) é uma artista cuja prática tem incidido no campo desenho, com uma especial apetência para explorar diferentes tipos de materiais e suportes. Desde a sua estadia na Índia, onde aprendeu processos de tinturaria numa pequena fábrica, a artista começou a explorar o desenho em tecidos. São desenhos que se destacam pelo seu carácter orgânico e metamórfico, representando figuras entrecortadas, formas híbridas onde se sobrepõem linhas, padrões e cores, que surgem de uma premeditação rudimentar, porque é esperado que a criação se desenvolva a partir da acção de um corpo e de uma mente que se lançam sobre o suporte para abraçar as contingências do desenhar e os impulsos e associações inconscientes que se vão desvelando. Naturalmente que o suporte e as técnicas de tingimento conferem uma certa imprevisibilidade a estes desenhos: a paleta de cores bem como a maneira como as tintas aderem aos tecidos acarretam um jogo incontrolável com o acaso e com aquilo que é imanente à natureza dos materiais e dos meios com que se trabalha.

Por fim, Gonçalo Pena (n. 1967), um artista que tem há vários anos uma prática quotidiana e compulsiva no desenho, nomeadamente através de desenhos de pequena dimensão (formato A4) que são realizados de um modo extremamente célere e descomprometido, no qual o artista ensaia diferentes modos de articular a experiência real (a representação e o comentário a situações, fenómenos e figuras do espaço público), a experiência plástica (os aspectos funcionais e estéticos do desenho) e a experiência imaginária (fantasiosa, aberta, desregrada). A cada novo desenho o artista projecta um novo sentido, uma nova intuição, não necessariamente coerente com o anterior ou com o próximo. Procurando contornar a vastidão e diversidade de géneros, temas, genealogias e estilos que caracteriza esta constelação de desenhos, para esta exposição optamos por privilegiar o carácter único e singular de cada desenho, como também enfatizar uma tipologia de desenhos em que é mais notória a ambiguidade representacional, gráfica e narrativa.


Sérgio Mah

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