Exposição Coletiva

Curador João Pinharanda
Pintura: campo de observação
18

 

Junho

 

2021
4

 

Setembro

 

2021
Pintura: campo de observação
Pintura: campo de observação
Pintura: campo de observação
Pintura: campo de observação
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Pintura: campo de observação
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Pintura: campo de observação
Pintura: campo de observação
Pintura: campo de observação
Pintura: campo de observação
Pintura: campo de observação

ANA CARDOSO | ANA MANSO | ANTÓNIO NEVES NOBRE | BEATRIZ COELHO | LUÍSA JACINTO | MARIANA GOMES | MARTA SOARES | RITA FERREIRA | RUI HORTA PEREIRA | RUI NEIVA | SÉRGIO FERNANDES



(Em memória de Julião Sarmento, que gostava de pintura, 

que tinha uma curiosidade insaciável 

e com quem teria gostado tanto de discutir esta exposição) 



A exposição foi construída a partir de um vasto (mas necessariamente incompleto) “inquérito” realizado junto de alguma da mais recente pintura produzida em Lisboa - prospecção que deverá prosseguir noutros contextos geográficos, procurando outros nomes (escolares e pós-escolares) e que resultou na exposição de muitos e diferentes exemplos de pintura e de pintura abstracta. 


Nas artistas e nos artistas presentes encontramos uma maioria de jovens ou com carreira recente ou pouco divulgada a que se juntam algumas carreiras mais longas, capazes de fazer a ponte para contextos anteriores. No entanto, excluíram-se desta selecção nomes históricos, a maioria ainda activos e que desenvolveram e mantiveram uma coerente produção abstracta dos anos de 1970 até hoje. 


Tentámos assim evitar qualquer tentação historicista, comparatista ou de filiação, relativamente aos artistas que se apresentam. Deve assinalar-se com veemência que esta exposição não quer esboçar nem um balanço histórico, nem apresentar uma qualquer conjuntura nascente; que esta exposição não é um manifesto, que não trata de anunciar a vaga de uma “nova abstracção”, que os artistas que reúne não integram nem nunca integraram um mesmo grupo. Importa portanto ler este texto fora de toda a intenção de servir para apresentação de um projecto estético autónomo. 


Parece porém fácil constatar que há, na actualidade nacional, uma forte produção pictórica (vinda de muitos horizontes e representando muitos universos). E que essa produção, revelada nas camadas mais recentes de estudantes recém-formados ou ainda em formação, encontra na abstracção um meio de expressão privilegiado - embora o rigor da geometria esteja ausente e alguns deles introduzam mesmo frequentemente elementos ou sugestões figurativas. E ainda que, apesar dessa evidência empírica, tal fenómeno raramente tem sido considerado na reflexão crítica ou tomado no seu conjunto na prática curatorial. O que se pretendeu fazer aqui foi confirmar, em numerosas visitas de estúdio, a intuição dessa realidade e, a partir daí, construir uma exposição. 


Tendo partido para este trabalho de observação sem qualquer pré-conceito relativamente ao resultado final, foi possível constatar um conjunto de linhas fortes que confirmam todas as tensões da pintura no contexto contemporâneo: as frágeis linhas que separam a prática da pintura de certos exercícios conceptuais implicados na sua realização, a contaminação entre a geometria e a liberdade do gesto, entre essa liberdade e uma certa para-figuração (onde as referências florais se tornam dominantes), por exemplo. São estes os sucessivos campos de afirmação onde a(s) cor(es), a acumulação de matéria(s) ou a sua ausência, a gestualidade ou a sua ausência, a ausência de “mensagem” ou a sua sublimação racionalizada, lírica ou irónica e ainda a armadilha formal e decorativa são os elementos sempre em jogo. O processo de investigação em curso, permitiu perceber que as sensibilidades individuais de cada artista seleccionado não se confundem entre si, não estabelecem linhas de continuidade ou influência mútua. Ou seja, o “panorama” do tempo actual, que aqui é possível provisoriamente estabelecer, confirma a situação histórica, sociológica e antropológica da criação visual portuguesa: trata-se de uma cena heteronímica, dificilmente referenciada a qualquer continuidade histórica, com raras ou ausentes ligações a contextos nacionais anteriores ou coevos e também não a contextos externos, ou assumindo estes sempre em modo de miscigenação, contaminação e hibridismo. 


Estas constatações determinaram uma montagem dominada por critérios visuais (formais/cromáticos). 


Sérgio Fernandes afirma claramente a longa e preciosa fabricação das suas telas onde a luz procura o seu fulgor e sensualidade, densidade e sublimação mais por subtração e depuração das cores que por adição. 

Ana Manso coloca-nos num universo onde o gesto abstracto se faz forma ese faz cor (sem que nenhuma delas resulte de uma decisão prévia, mas sim de uma acumulação de decisões) e onde a multiplicação dispersa desses elementos e sua vibração cria campos de contacto entre diferentes disciplinas, linguagens e intenções. 

Marta Soares procura um paroxismo performativo do fazer que não se vê mas se pressente na grandiosidade das obras e na acumulação de matérias heteróclitas das suas telas, simultaneamente sujas e puras, escuras e vibrantes de uma estranha luz interior. 

Puros são os véus de Luísa Jacinto, marcas da proximidade a paisagens longínquas que, por serem translúcidas e sem peso, podem também sentir-se perto ou sugerir rastos de anjos cortando o espaço onde nos movemos. 

António Neves Nobre tem, ao todo, quatro peças nesta exposição. Cada uma delas a vai pontuando e constituindo momentos de surpresa e comentário ao que a rodeia e a si mesma. Importa ter em atenção o uso rarefeito da matéria pictórica mas também a ilusão dos efeitos orgânicos (ou objectuais) que se criam e que são acentuados pelas formas escolhidas: três “pupilas” surgindo em todas as alturas das paredes das duas salas, por exemplo. 

Há um claro jogo de tensão entre as formas (geométricas e de memória “seventies”), os gestos e as cores livres, o modelo ora abstracto (monocromático) ora floral nas pinturas “recortadas” de Ana Cardoso. São três, dispersas no espaço da exposição e todas se resolvem no equilíbrio entre a ilusão da forma geométrica que compõe o puzzle de recortes e a pintura sobreposta que funciona como verdadeira camuflagem armadilhando aquela base geométrica. 

A grande pintura/desenho sobre papel de Rita Ferreira está no limite da padronização floral (que, porém, sistematicamente boicota) e no limite da saturação cromática; dois pequenos papéis, mais adiante, mantêm esta ambiguidade interna mas desfazendo as referências figurativas até transformarem a abstracção num progressivo desvanecimento das cores e desaparecimento das formas. 

As duas telas de Mariana Gomes, replicam-se ente si e articulam intensamente três elementos: a matéria é espessa e irregular mas sedutora; as cores são gritantes mas equilibradas segundo as regras do espectro cromático e abertas a uma alegria pura; e o gesto, aparentemente desleixado e caótico, cria formas regulares que mascaram referências eruditas. 

Nas duas grandes pinturas de Rui Neiva não sabemos se devemos dar primazia ao inusitado recorte das telas, se ao gesto mecânico que arrasta e mistura as cores nas superfícies - estas brilham como painéis cerâmicos e ganham mesmo dimensão de sinais urbanos decifráveis como testemunhos de movimento e velocidade. 

Rui Horta Pereira, apresenta uma longa teoria de papéis que se sucedem, sem regra nem formal nem cromática. Aparentemente são delicadíssimas pinturas; na realidade são registos do trabalho da luz do Sol (durante meses, em diferentes lugares e posições e tempos de exposição) sobre simples cartolinas coloridas - funcionam assim como registos meteorológicos aleatórios e de impossível leitura. 

Um jogo, sem peças e aberto a todas as possibilidades de associação, é talvez a solução ideal para fechar este percurso. Beatriz Coelho recorda-nos, em dois dípticos, resolvidos segundo as regras “tradicionais” da pintura, a indecidível fronteira em que nos movemos: os padrões enxaquetados das duas composições são simultaneamente figuras geométricas e representações de tabuleiros de xadrez: abstracções e objectos, coisas e ideias. 


O “campo de observação” trabalhado, a sua riqueza e diversidade, o seu peso e profundidade resultam na apresentação de um vasto espectro de linguagens (mais contraditórias que complementares) que vão da pureza de elementos à sua sobrecarga, do lirismo ao comentário irónico, e que abrindo múltiplas vias de trabalho, justificam o pendor de incompletude do título da exposição e anunciam a necessidade de continuar a tarefa de prospecção que aqui se iniciou. 



Paris, 10 de Junho de 2021 

João Pinharanda 

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