Muntadas (Barcelona, 1942) expõe pela primeira vez na Cristina Guerra Contemporary Art, Lisboa. A exposição Espectáculo / Poder / Mass Media apresenta trabalhos produzidos entre os anos 1990 e os 2010, a maioria dos quais nunca mostrado em Portugal.
A prática multidisciplinar de Muntadas explora e analisa os fenómenos sociais, políticos e antropológicos do nosso mundo com o propósito de demonstrar a forma como os meios de comunicação de massas conformam e controlam a realidade. Utilizando as mesmas estratégias empregues pelos mass media, o seu trabalho revela os mecanismos de poder que suportam estes sistemas de persuasão.
«Muntadas rejeita uma leitura linear do presente e propõe uma história que é uma combinação de múltiplos eventos, incluindo memórias do passado e visões do futuro.» Michael Tarantino artforum, Feb. 1995
Produzidos nos anos 1990, dois trabalhos baseiam-se na análise do gesto como símbolo de poder. Portraits [Retratos] é uma série de serigrafias que exploram discursos em frente a câmaras, imagens retiradas dos meios de comunicação representando figuras públicas dirigindo-se a uma audiência — uma das imagens mais recorrentes na nossa paisagem mediática. Muito ampliadas, as imagens são focadas no acto de falar, isolando a boca e o microfone, suspendendo a acção e apagando qualquer referência que nos indique a identidade da pessoa representada ou a localização da cena. O microfone transforma-se num símbolo e prótese de poder. Por outro lado, Architektur/ Räume /Gesten II é uma fotocolagem, uma série focada na relação entre um gesto de mão, um espaço decisório (um interior) e o exterior de um edifício urbano. A combinação das imagens neste tríptico evolve à medida que estabelece relações entre gestos de autoridade, concórdia, consenso e imposição, salas de reunião desenhadas especificamente para serem os locais onde as pessoas que controlam uma empresa se encontram e tomam decisões — a arquitectura como representação do poder económico e político numa sociedade pós-industrial.
A esfera do espectáculo reflecte-se em três trabalhos que têm o futebol como tema, investigando assuntos como eventos de massas, identidade, violência e desporto. Estas peças fazem parte da série On Translation, que analisa o conceito de «tradução» a partir de um vasto leque de perspectivas e aborda questões linguísticas, económicas, políticas e culturais. O futebol é hoje um dos maiores espectáculos mediáticos do mundo, seguido por milhões de espectadores e alimentando o lucrativo negócio do desporto. Há vários «embrulhos» e regras através dos quais produtores e gestores apresentam o «espectáculo», de forma a fazer passar mensagens às suas audiências. Nas competições internacionais, disputadas pelas equipas nacionais, há o ritual de cantar o hino de cada país antes de iniciar o jogo. On Translation: Himnes revela-nos os diferentes comportamentos sociais dos jogadores durante esse momento, convidando-nos a reflectir sobre patriotismo, colonização e globalização.
Um dos momentos mais empolgantes num jogo de futebol é quando alguém marca um golo. On Translation: Celebracions materializa uma sequência destas reacções e rituais, reflectindo sobre as reacções pessoais, íntimas e quase eróticas entre os jogadores, mas também sobre o fenómeno universal da interacção entre jogador e adeptos. A Federação Internacional de Futebol (FIFA) é responsável pela organização dos campeonatos internacionais, assim como pelas regras que os regem. On Translation: FIFA 2014 é um mural de imagens variadas, todas relacionadas com futebol e apresentadas durante o Campeonato do Mundo FIFA de 2014 (Brasil), no qual o fanatismo, a violência e os mecanismos de controle apontam para o outro lado do «espectáculo».
Carolina Grau