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Painting
19

 

Setembro

 

2002
26

 

Outubro

 

2002
Michel Biberstein - Painting
Michel Biberstein - Painting
Michel Biberstein - Painting
Michel Biberstein - Painting
Michel Biberstein - Painting

Michael Biberstein (Solothurn, Suiça, 1948) tem um percurso relativamente atípico para o campo artístico. A este propósito, é especialmente relevante o estudo de história de arte que desenvolveu junto de David Sylvester no Swarthmore College, em Filadélfia, que o ajudou a consciencializar dos problemas pictóricos que haveriam de formar o corpo da investigação do seu trabalho plástico. Este dado biográfico será estruturante para a sua introdução na prática artística, e para a compreensão do conjunto da sua obra, através de uma revisão crítica da tradição pictórica Europeia, que se manterá como “ferramenta” operativa até hoje. Nesta tradição, o seu trabalho tem sido, amiúde, filiado na prática da paisagem enquanto género pictórico. Mas qual a natureza dessa filiação e que paisagem?

Nas palavras do próprio artista: “a paisagem da pintura e não a pintura da paisagem”, o que nos coloca nos limites da paisagem da própria pintura, isto é, no campo da sua sintaxe. Esta inflexão, parecendo mínima é, contudo, reveladora do cerne da investigação do artista: o conceito de paisagem é uma metáfora útil para a pesquisa que vem desenvolvendo ao longo dos mais de 30 anos de carreira que já perfaz, porque implica, directamente, o campo da visão, assim como o corolário pictórico de duzentos anos de arte Europeia, nos problemas de formato e escala que o informam.

Esta pesquisa informada da “paisagem através da paisagem” marca o percurso do artista desde o início, que pela sua extensão e volume- e, portanto, dificuldade de resumo- não dispensa uma leitura mais atenta da vasta bibliografia sobre si publicada [ver biografia anexa]. É, contudo, possível apontar alguns momentos-chave:

primeiro, nos finais dos anos 60, através de um trabalho sistemático de “all-over-painting”, numa continuação metodológica dos procedimentos oriundos do expressionismo abstracto; depois, nos anos 70, através da tematização do monócromo, paradoxalmente “grau zero e destino da prática da pintura” e na exploração dos próprios elementos constituintes do léxico da pintura, em aproximações metodológicas e conceptuais importadas de processos “linguístico- analíticos” (reveladoras duma leitura atenta de Wittgenstein) ou do estruturalismo, no que veio a ser conhecido – por uma expressão irónica do artista- de “fase analítica”.


Esta desconstrução semântica da linguagem da pintura desenvolveu-se, paralelamente, numa pesquisa sobre a própria dimensão espacial (em questões de “parede/chão” ou “pintura/tela”) do contexto da sua recepção, e no carácter corporalizado (embodiement) que a sua percepção convoca, preocupações muito comuns à prática artística da época.

Assim, o problema da relação entre a imagem pintada e o acto de pintar, a relação da pintura com o espaço e a questão do espaço enquanto veículo-chave do sentido, aliada a uma apurada consciência da prática da pintura na sua dimensão histórica, marcam o percurso de Michael Biberstein desde o início da sua carreira e irão informar intuitivamente a sua prática continuada.

Em meados dos anos 80, será à luz destes princípios que se dará uma importante inflexão no seu trabalho- que em oposição ao trabalho anterior, chamará “fase sintética”- para a paisagem de tradição romântica (ainda que não haja qualquer semelhança temática ou processual com esta), que coincidiu com um aumento de escala, vinda duma prática continuada da disciplina do desenho.

Uma inflexão para a arte como landshafterei, isto é, enquanto conceito abstracto e reflexo de um pensamento que aponta para um aspecto periférico da tradição pictórica: a paisagem enquanto campo de possibilidades para a reformulação da corporalidade do espectador e espaço de ensaio para a opticalidade da pintura como horizonte e destino da sua prática artística.


É na linha deste trabalho que a presente exposição individual de tema genérico “Painting”, a inaugurar no dia 19 de Setembro na galeria Cristina Guerra- Contemporary Art, se constrói, revelando, por outro lado, um aprofundar dessa pesquisa pela introdução de uma gama cromática mais ampla e mais afirmada e por uma maior densidade estrutural .

Deste modo, remontando aos últimos anos de actividade, os oito acrílicos sobre tela a apresentar revelam-nos a pintura como um campo de possibilidades para a paisagem: já não imediatamente identificável na sua gestalt mas como construção de um modo específico da visão (“visão difusa”), reordenada e convertida em paisagem pela metodologia de uma representação- o que Robert Morris chamou “a kind of landscape mode.”


Esta reabilitação dos problemas da percepção da obra de arte, e da sua performatividade espacial no acto de recepção, constitui uma das preocupações mais oportunas da arte contemporânea. Não é, portanto, de estranhar a importância que o percurso artístico de Biberstein vem assumindo quer em Portugal (país onde reside desde 1979), quer na cena internacional, o que lhe tem valido a inclusão em importantes exposições (cite-se, a título de exemplo, a sua participação na Documenta IX, Kassel, em 1992).

A este propósito refira-se a sua nomeação para a edição de 2002 do Prémio EDP de Pintura, assim como a edição próxima, coordenada por Delfim Sardo, de um livro antológico da sua carreira centrado na temática aglutinante da paisagem e as duas exposições a realizar, proximamente, na Suíça ( Helmhaus, Zurique e na Kunsthalle de Solothurn).

HM.

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