Sob o título circling the square, Michael Biberstein propõe-nos uma exposição que se apresenta como um enunciado reflexivo sobre a pintura enquanto prática sistemática que revisita a história da arte recuperando, na sua radicalidade subliminar, elementos estruturais que constituíram ferramentas determinantes para a pintura nas vanguardas dos anos vinte do século passado.
A paisagem, que caracteriza de uma forma mais abrangente a obra do autor, é desenvolvida através de uma paleta cromática que se densifica entre planos e transparências num movimento quase impercetível de sobreposições e desvelamentos que transformam, para o espetador, a tela num campo visual que irrompe no sentido da profundidade da imagem pintada. Como se esta permitisse perscrutar o interior do universo representado abstraindo nos dos limites físicos do suporte.
Esta noção de abstração dos limites do suporte - o formato da tela - cria uma tensão sinestésica no observador1 que aciona um apelo inquestionável à concentração sobre a pintura resgatando no sujeito a sua amplitude física e psicológica (temporal). A respeito deste paradoxo na pintura de Biberstein, Otto Neumaier refere o seguinte no catálogo da exposição A difícil travessia dos Alpes: “a sua obra dirige-nos até aos limites daquilo que somos capazes de experimentar e, ao fazê-lo, faz-nos evocar os limites da alma quanto à possibilidade de experimentar o mundo – e nós próprios”.
É neste campo de possibilidades que o título da exposição, circling the square, nos reposiciona perante uma das questões históricas mais relevantes que a pintura desenvolveu enquanto reflexão sobre si mesma e que conhece a sua génese no primeiro quartel do Sec XX. O quadrado, forma perfeita, presente na génese suprematista da abstração geométrica é o elemento transformador que Biberstein inscreve nestas pinturas, que são como um cluster magmático, agora sujeitas à tensão interna que essa forma sustentada por diagonais equivalentes desenvolve. Contudo, o título reserva ainda uma segunda questão interessante determinada pela intencionalidade do artista. O círculo, uma outra figura geométrica, é uma metáfora do cerco à forma quadrangular que Michael Biberstein escolheu para regular e ordenar serialmente a sua prática da pintura. Uma acção que traduz o pensamento do autor sobre a pintura lato sensu, e simultaneamente sobre os limites e tensões que o seu trabalho, como pintor, nos propõe.
João Silvério
Novembro 2012