Esta Primavera Cristina Guerra Arte Contemporânea apresenta novo trabalho do artista português João Paulo Feliciano. Baseando-se em temas de codificação e quebra, esta exposição explora a instrumentalização dos objectos, cor, luz, som e música do artista. As esculturas de luz de Feliciano utilizam o som - melodia e a obra falada - e a sua decomposição, muitas vezes em produtos caleidoscópicos, sensuosos, tontos e coloridos.
João Paulo Feliciano está interessado em sistemas aleatórios que abrem a possibilidade de combinações infinitas. As suas instalações multidisciplinares podem ser vistas como pontos de partida, desencadeando uma série de variações. A estrutura das 4 obras expostas nesta exposição casam alta e baixa tecnologia; objectos de designer e peças encontradas, descartadas, quotidianas; escultura, luz e som em composições performativas hipnotizantes.
Na sua abordagem à tecnologia, Feliciano escapa ao filho da modernidade, o mecanismo produtivo, despertando-o da monotonia para um sonho de criatividade e maravilha.
A actual exposição de Feliciano não só revela o artista como engenheiro, mas também como músico na ausência.
O QUARTETO DE BLUES, 2005
Madeira, plexiglas, alumínio, vários tipos de lâmpadas, tripés, moduladores de som para luz
190 x 190 x 220 cm
O Quarteto Blues, uma escultura-instalação de som e luz e peça central desta exposição, explora o cruzamento entre a arte auditiva e visual. Quatro candeeiros diferentes erguem-se nos cantos de uma mesa-estágio. No topo do palco da mesa, dois planos de perspex azul escuro transparente cruzam-se para dividir o espaço em quatro. As quatro luzes piscam em resposta ao som da música a tocar, criando reflexos, transparências e justaposições; uma coreografia desconcertante de luz, cor e som.
Concebido para evoluir em direcções que o artista possa não ter previsto, o Quarteto de Feliciano é uma experiência encantadora.
Em 2007, THE BLUES QUARTET irá fazer uma digressão pelos EUA numa co-produção entre
Cristina Guerra Arte Contemporânea & o Centro de Arte Contemporânea, Cincinatti
DA DISCUSSÃO NASCE A LUZ (Discussão traz o Iluminismo), 2005
CD áudio, estéreo, 10 min., em loop.
2 lâmpadas de mesa, 2 moduladores de som para luz, mesa
dimensões variáveis (de acordo com o tamanho da tabela)
edição de 3 - a tabela e uma das lâmpadas (B) são diferentes em cada um dos exemplares.
banda sonora: Rafael Toral; texto: Octávio Nunes; vozes: Bruno Nogueira, Manuel Marques.
Muitas vezes Feliciano faz uso de tecnologia simples para moldar o som e a luz em acontecimentos sensuais e engraçados, tais como as lâmpadas sem sentido, tagarelas em 'Da Discussão Nasce a Luz' (discussão traz esclarecimento), onde o artista antropomorfiza estas lâmpadas de mesa, de outro modo irreflectidas e sem resposta. Encenando-as em lados opostos de uma mesa, Feliciano estabelece um par conversador: um modernista e um romântico, que se envolvem num diálogo de expressões de lugares comuns com as suas vozes modificadas, representando vagamente os paradigmas. Dois idiotas que se desleixam a falar sobre o mato.
PEQUENO POEMA ELÉCTRICO, 2005
Madeira (contraplacado), plexiglassas, condensadores electrolíticos, fio de cobre
40 x 30 x 40 cm
Edição de 3
A escultura Pequeno Poema Eléctrico é uma das peças mais discretas da exposição. Um pequeno truque óptico é realizado por dois condensadores electrolíticos posicionados em cada lado de uma folha de perspex azul escuro transparente. Ligados por um par de fios eléctricos, os postes parecem cruzar a folha de perspex. Segundo a crítica de arte brasileira Claudia Laudanno, "Feliciano introduz-nos num campo da química estética onde a transgressão e o desejo reforçam a ordem deslocada". A escultura também remete ao trabalho do artista português Noronha da Costa e às suas explorações da realidade e da ilusão, luz e sombra, presença e ausência.
NENHUM SOM É INOCENTE, 2006
ficheiro de vídeo MPEG-4, leitor i-Pod. espuma, lápis na parede
80 x 60 x 5 cm
Cópia única
No Sound is Innocent' foi concebido pelo artista como uma peça escultórica afectiva evocando o poder da música e a sua capacidade de nos retirar da presença, levando-nos de volta a momentos importantes da nossa vida e impedindo-nos de perder a sua estação, a sua atmosfera, o seu gosto. Esta relação está também simultaneamente associada e motivada pela tecnologia que utilizamos para tocar as nossas canções favoritas: durante mais de um século, os avanços tecnológicos moldaram a nossa intimidade com a música. Enquanto que o tamanho físico dos LPs e dos gira-discos era o mais adequado para a experiência da audição comunitária em casa, o I-Pod dá-nos individualidade, portabilidade e imprevisibilidade, proporcionando-nos uma relação mais abrangente e imersiva com a música. As imagens associadas à música evoluíram em conformidade: se a capa impressa colorida do LP era estática mas suficientemente grande para imprimir uma imagem afectiva, o ficheiro de vídeo MPEG dá-nos uma imagem muito mais pequena e menos glamorosa, mas permite-nos facilmente gravar e reproduzir momentos da nossa própria vida, abrindo novas dimensões à forma como lidamos com as nossas memórias.