Cristina Guerra Contemporary Art apresenta GHOST (2009-12) de João Onofre, filme que documenta a viagem, silenciosa, de uma ilha com uma palmeira tropical (Howea Forsteriana) com cerca de 11 metros de altura. A ilha, especialmente construída para o filme, atravessa, de Oriente a Ocidente e ao longo do rio Tejo, a cidade de Lisboa até à foz, para se perder no horizonte.
Ao filmar na coexistência do documental e da ficção, e confrontando estes limites, Onofre acciona em GHOST, através da imponderabilidade do acontecimento, um sentido do paradoxal. A ilha, realidade construída, corporaliza o lugar no qual o nosso imaginário colectivo projecta uma existência diferente ou idílica. Porém, a característica de se encontrar fora do contexto, de não pertencer, ideia que, inclusive, se reforça com a Howea Forsteriana, já que a mesma dificilmente é encontrada no hemisfério norte, confere à ilha uma inevitável dimensão espectral.
A ilha, em passagem permanente, nómada, proporciona uma miragem aos que observam o acontecimento, acentuando a dicotomia “real/irreal”. Neste contexto será porventura útil convocar a história do cinema que, de Georges Méliès a David Lynch, assenta na espectralidade e no inesperado, transportando-nos para a frágil fronteira existente entre a realidade e o sobrenatural.
Esta exposição apresenta também um conjunto de 36 fotografias, impressas a jacto de tinta sobre papel Luster, documentando a passagem da ilha por Lisboa no dia da rodagem. As fotografias deixam revelar os diferentes cambiantes de luz da paisagem do rio Tejo, registando temporalmente o acontecimento e reafirmando o seu carácter espectral.
Ana Mary Bilbao / Carla de Utra Mendes