FILIPA CÉSAR | JOÃO PAULO FELICIANO | FERNANDO GUERRA | DANIEL MALHÃO | EDGAR MARTINS
Interiores: anotações sobre uma exposição
Pedro Gadanho é o curador e autor dos projectos apresentados na exposição que se realiza no âmbito da Trienal de Arquitectura de Lisboa de 2010, sob o tema Falemos de Casas. As obras expostas, fotografia e vídeo, confrontam-nos com o processo de trabalho de um fotógrafo, especializado em arquitectura, e de quatro artistas plásticos.
Os autores e os projectos: Fernando Guerra, sobre a Casa Baltasar, 2007, fotografia; Filipa César, com o vídeo Stereo sobre a Galeria Presença, 1998/2002; João Paulo Feliciano, sobre um apartamento em Lisboa, 2001/2010, colagem fotográfica; Daniel Malhão, sobre a Ellipse Foundation, 2006, fotografia, e Edgar Martins sobre a Casa GMG, 2010, fotografia.
Interiores deve ser assumido como um projecto autoral que se desenvolve de dentro para fora. Como uma espiral que tem o seu epicentro na produção de arquitectura de Pedro Gadanho e as suas ramificações no trabalho dos artistas e de um fotógrafo que constituem o corpus documentado e exposto. A amplitude deste projecto compreende ainda a edição de um livro de tiragem limitada. É importante referir que a actividade de Pedro Gadanho procura falar de arquitectura para lá dos projectos que cria, disseminando-se em áreas tão diversas como a curadoria, a edição e a escrita ficcional.
A prática arquitectónica de Pedro Gadanho opera sobre a ideia de diferença, intimidade e desejo, sem perder de vista a ligação ao contexto cultural e urbano dos espaços sobre os quais reflecte e trabalha. Esta prática da Arquitectura, mais dedicada às entranhas e à vivência de espaços reservados, concorreu simultaneamente com o virtuosismo da decoração de interiores e com as potencialidades do design, que Gadanho conhece mas às quais resiste. Este acto de resistência expõe as suas reflexões sobre a construção do lugar e da sua experiência, contrapondo o uso do adereço, ou do objecto criado segundo padrões funcionais e estéticos, à criação de um sistema de relações entre a dinâmica da utilização do espaço habitável e os equipamentos necessários a este, contaminados por referências do mundo exterior que se desdobram entre a arquitectura, a arte e os objectos do quotidiano. Entre a linguagem erudita e a linguagem popular...
Os interiores que nos são dados a ver sob a forma de fotografia ou vídeo são trabalhos independentes da memória descritiva de cada projecto, e devem ser observados como portas de entrada para o processo que cada um dos autores encontrou pela sua experiência dos espaços. Para lá da proximidade ou da verdade que procuramos em cada imagem.
João Silvério
Outubro 2010