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Good Vibrations
11

 

Julho

 

2020
28

 

Agosto

 

2020
Good Vibrations
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HELENA ALMEIDA | JUAN ARAUJO | MICHAEL BIBERSTEIN | FERNANDO CALHAU | LOURDES CASTRO | ANDRÉ CEPEDA | ÂNGELA FERREIRA | JOÃO MARIA GUSMÃO + PEDRO PAIVA | FERNANDO LANHAS | JOSÉ LOUREIRO | JONATHAN MONK | MATT MULLICAN | JOÃO ONOFRE | JULIÃO SARMENTO | ÂNGELO DE SOUSA | RUI TOSCANO | LAWRENCE WEINER | YONAMINE



I love the colorful clothes she wears

And the way the sunlight plays upon her hair

I hear the sound of a gentle word

On the wind that lifts her perfume through the air


I'm pickin up good vibrations

Shes giving me excitations

I'm pickin up good vibrations

(oom bop bop good vibrations)

Shes giving me excitations

(oom bop bop excitations)

Good good good good vibrations

(oom bop bop)

Shes giving me excitations

(oom bop bop excitations)



No título desta exposição, encontra-se uma provocação jubilatória: “boas vibrações”. A sua simples leitura desperta o falsete solar de Brian Wilson, assobia o theremin electrónico da canção. Cria um plano imaginário e desejável em que os corpos e os olhares vibram, indiferentes às circunstâncias que nos condicionam. Sim, vibram, como também vibram as obras obras de Michael Biberstein, Julião Sarmento, Yonamine, João Onofre, Fernando Calhau, Lawrence Weiner, José Loureiro, João Maria Gusmão + Pedro Paiva, André Cepeda, Juan Araujo, Lourdes Castro, Matt Mullican, Fernando Lanhas, Rui Toscano, Helena Almeida, Ângela Ferreira, Jonathan Monk e Ângelo de Sousa. Dezoito artistas que exprimem, com os seus trabalhos, uma das mais perenes faculdades da arte: a de comunicar vibrações, forças, cores, energias, ou, pela voz dos Beach Boys, elations, excitations. 


Neste Verão, que vai parecendo menos livre, a arte (como a musa que a banda californiana canta) permanece lugar de movimentos, de conversas, exaltações que o visitante inventa e reinventa, descobre e redescobre entre as obras, de obras com as obras. Tudo se anima neste espaço, mesmo que em silêncio, desde que haja visitantes, espectadores, gente. Não há más vibrações, há vibrações, como as que tremulam em Furrows (1974) de Lourdes Castro. Sombras (de alguém) que a artista libertou com cores plácidas, quase doces. Variações do que alguém foi, estados de ânimo da conformação singular de um corpo, contornos opacos e transparentes. A série e a repetição evocam, em termos formais, outras serigrafias, outro artista, mas este movimento de luz e cor – uma dança – é o de alegria que, embora melancólica, nada tem de traumático. A vibração é a da vida. 


Há sombras mais enigmáticas, insondáveis. Em Light Piece (1976), obra de Julião Sarmento, mostrada apenas em duas ocasiões, em Milão e no Museu de Arte Contemporânea de Elvas, na exposição Index, em 2013, com a curadoria de João Silvério – não percebemos de onde vêm. Um movimento aleatório de uma mancha, de uma sombra vai avançado titubeante sobre uma série de retratos fotográficos de duas personagens femininas (vinque-se a presença do retrato). Na primeira imagem, vemo-las num estado de espera, de demora, aguardam; na última, a sombra já as levou. As vibrações que provém das obras de Lourdes Castro e Julião Sarmento são distintas, mas deixam espaço para uma certa indiscernibilidade. Na sua luta amorosa com a luz e a sombra, partilham da mesma sensibilidade ao efémero, ao começo e ao fim. Querem agarrar a sombra, o seu efeito; isto é, contemplá-la, com tons diferentes de melancolia. As vibrações também podem ser choques instigado pela violência da figuração e a figuração da violência. As três pinturas da série El Primer Hombre (2019) de Juan Araújo, produzidas para exposição Potlatch, no Museu do Caramulo, com a curadoria de Julião Sarmento, reproduzem, em termos pictóricos, imagens fotográficas de acidentes de automóveis. Transformam em pintura os documentos dos destroços dos carros de Albert Camus e Jackson Pollock e, numa elíptica tautologia, a serigrafia Car Crash de Andy Warhol. O realismo traumático de Hal Foster dá lugar a um sopro trágico, quase elegíaco, enquanto a pintura desrealiza e eterniza as imagens. A vibração é a de um luto, cada vez mais distante. Untitled (Dead Man Nr. 1) e Untitled (Dead Man Nr. 3), da série homónima (2018) de Matt Mullican, representa um homem morto, mas diluído na natureza. Por meio da frottage, a imagem original cedeu a uma abstracção visceral, convulsa. O inicial da fotografia diluiu-se, mas aquilo a que imagem alude pela cor, pelo título, não nos deixa esquecer: a morte numa vibração telúrica e terrosa. Aquele corpo, daquele homem morto, está a desaparecer. 


O corpo de Helena Almeida não desapareceu, está ali. Não é uma mera silhueta ou uma simples sombra, é um corpo que podia ser desenho ou (porque não?) uma escultura, um objecto. Uma figura indefinida, esquiva que escapa a qualquer reificação ou 

classificação. Um movimento suspenso, espontâneo e encenado, quase não-humano desenhado por um corpo humano. Há humor nesta presença escura, uma mordacidade digna diante da escultura de João Maria Gusmão e Pedro Paiva: uma panela de pressão, em ebulição, também suspensa numa espécie de congelamento que, de um certo ponto de vista, parece (querer) entrar na imagem de Helena Almeida. 


Ritmos que tocam, que se cruzam vindos de cada obra. Projecções, trânsitos. No centro da sala, a peça de João Onofre surge, temporariamente, como a metáfora oportuna da presente coletiva (a título de curiosidade refira-se que canção dos Beach Boys pode ser escutada num dos trabalhos do artista, Untitled (leveling a spirit level in free fall feat. Dorit Chrysler’s BBGV dub). Trata-se de um dos trabalhos mais antigos do artista, um duplo estetoscópio que, usado mutuamente por duas pessoas, permite ouvir o bater de ambos os corações ao mesmo tempo. Agora, por razões conhecidas, não podemos fazer esse exercício na exposição, pelo que a peça repousa fechada. Resta a memória desse eco que sabemos, com ínfimas variações, ser universal. 


Em Good Vibrations, a vitalidade das formas, das sombras e das cores convive com o fascínio do sublime, com a perceção de um fim ou do vazio, com imagens imersivas, cosmologias. Vibrações à escala humana e sobre-humana, sombras e astros. Uma superfície de ferro, pesada, recebe, qual altar, o espectador. No seu centro, uma legenda a néon diz perfect blank. É um dos trabalhos realizados por Fernando Calhau em 1990 que remete para o vazio, para uma ausência, mas, curiosamente, aquela luz

não se apaga. Persiste, frágil, imaterial, talvez para ser preenchida, ocupada. Artificial e humana, carrega aquele peso. A pintura de Michael Biberstein, Big Drift (2010), aponta as outras luzes, as outras iridescências, as de uma paisagem, mas a de uma paisagem interior, de uma paisagem que só o artista pôde tornar visível e que vai assomando à superfície do linho, em vibrações cromática e musicais. No seu interior, escutam-se andamentos, modulações, melodias, vozes, como aquelas no fundo das canções “Dream Letter” ou “Song to the Siren”, do compositor e músico Tim Buckley. Entre os agudos e os graves, entre as forma visuais e cores, ligações flutuam livremente. Algo de semelhante acontece no conjunto de trabalhos de José Loureiro. Desenhos sobre papel que se confundem com o papel, tracejados ondulantes, correntes breves num bailado geométrico, veloz, irrequieto, que dialoga com a esculturas de Ângelo de Sousa, desenhos espaciais que se dobram e desdobram. 


A fotografia de André Cepeda abre a exposição para outro tipo de vibração. É um portal para a transformação hodierna de uma cidade, Lisboa. Um detalhe, um pormenor de um lugar, de um edifício (o Palácio Almada-Carvalhais no largo Conde Barão, em Lisboa) que o artista foi velando, em 2019, com a câmara fotográfica. Mas sobre isso a imagem, em si mesmo, nada nos diz. Nua, sem contexto, assume o seu cariz mais abstrato, o de uma superfície quase monocromática, na qual, contudo se percebe a passagem do tempo. É esta tensão que se replica na sala de baixo, palco de uma série de trânsitos paralelos, tangentes. Entre as pinturas de Rui Toscano e Fernando Lanhas, entre a serigrafia de Yonamine e o projeto de Ângela Ferreira. O cósmico e o humano, a história da pintura e do mundo político vibram sobre a perceção, os sentidos, a memória dos espectadores. O ecrã pictórico de Rui Toscano convida o visitante a olhar-nos-olhos uma estrela, envolve-o com uma ilusão solar, dentro dos limites da pintura. O trabalho de Fernando Lanhas é menos imersivo, mais geométrico, com as suas linhas e cortes, o azul e o negro numa sequência vertical e irregular. Distantes em termos geracionais, estes dois artistas abeiram-se um do outro pela representação do cosmos. 


E o que aproxima os trabalhos de Yonanime dos de Ângela Ferreira? O passado político do mundo, em particular o do século XX. O artista evoca o rosto esperançoso de um jovem angolano em 1976, Ângela Ferreira celebra numa série de desenhos e numa maqueta, a activista anti-racista e filósofa americana Angela Davis; o mesmo gesto, refira-se repousa, de algum modo, nas peças de Jonathan Monk, embora o objeto da homenagem corresponde a outros artistas, isto é, permaneça no interior do mundo da arte. Mas regresse-se às obras de Yonanime e a Ângela Ferreira. Revelam duas abordagens diferentes (em termos temporais) no quadro da produção dos artistas e sulcam um intervalo na exposição, transportando-a para outro plano: a de um confronto com realidades mais chãs, prementes, urgentes. Outras vibrações, com sons e ecos inesperados. Obras que nos oferecem excitations, elations. Parafraseando a peça de Lawrence Weiner que começa a exposição, “onde quer que sejam colocadas, sejam como for, para chegarem onde for".



José Marmeleira 

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