We Are Not Ourselves [Não somos nós próprios] é a primeira exposição individual de Elmgreen & Dragset’s na galeria Cristina Guerra. Os artistas apresentam vários novos trabalhos, incluindo seis relevos em mármore da série Self-Portraits [Auto-retratos]. Ainda em curso, esta série apropria legendas e letreiros de parede usados em museus para identificar trabalhos de artistas que, ao longo dos anos, têm inspirado Elmgreen & Dragset.
Como poderemos construir uma identidade num mundo progressivamente mais fracturado, fluído e menos coerente; um mundo no qual as noções tradicionais de classe, identidade sexual ou mesmo o papel do artista parecem estar em constante transformação? Como uma dupla de artistas, como poderemos enquadrar uma narrativa individual que vá além da ideia convencional do autor singular? Que palavras deveremos usar? Que influências deveremos citar? Numa sociedade na qual somos confrontados com um fluxo infindo de informação, o que é hoje a identidade de um indivíduo — ou, mais complicado ainda, de uma dupla?
Em We Are Not Ourselves, Elmgreen & Dragset propõem uma forma diferente de auto-retrato, um formato mais próximo da poesia no qual se sobrepõem experiências cerebrais e emocionais e várias fontes de inspiração são citadas.
Os Auto-retratos dos artistas elevam a humilde legenda de museu à condição de obra de arte, enquanto nos oferecem uma visão íntima e pessoal sobre a sua colaboração enquanto duo. Aqui, a legenda de cartão é substituída pelos materiais clássicos das belas artes, como a mármore e a tinta sobre tela. Pepe Espaliú, Vilhelm Hammershøi, Agnes Martin, General Idea, Louise Bourgeois e Lygia Clark são nomes que estão presentes e são citados como influências externas através dos títulos dos seus trabalhos, que Elmgreen & Dragset utilizam para compor a sua própria noção de identidade. Estes trabalhos representam a história partilhada pelos artistas desde que se constituíram como dupla, revelando as referências históricas que contribuíram para a formação do seu universo artístico. Presentes na exposição, podemos identificar vários fragmentos de uma identidade partilhada. Desafiando a redutora cultura do selfie, os Auto-retratos de Elmgreen & Dragset’s exploram a forma como as nossas identidades são hoje profundamente dependentes de múltiplas influências.
O par, ou o duplo, surgem várias vezes na exposição: duas almofadas amarrotadas (Untitled) feitas em bronze e com um acabamento branco mate são colocadas lado a lado, representando um momento íntimo e partilhado, mas também uma homenagem ao cartaz de Félix González-Torres representando uma cama vazia com a marca de dois corpos. Noutro trabalho, duas velas (47 minutos / 1 hora e 52 minutos) parecem derreter a velocidades diferentes, apresentando-nos dois tempos de vida distintos, ainda que sejam esculpidas em mármore. De forma semelhante, em The Slowness of Us [O vagar de nós] uma lesma em bronze é interrompida e imortalizada na sua viagem subindo uma tábua encostada à parede.
Os dois retângulos esbatidos de Portraits of the Artist [Retratos do artista] sugerem a ausência de um par de retratos que, entretanto, foram retirados da parede. As suas marcas deléveis lembram-nos que, eventualmente, todos os nossos retratos serão um dia retirados das paredes onde agora ostentam as nossas imagens: a história será reescrita e os nossos dados serão apagados, o Instagram e o Facebook perderão a sua relevância e as imagens que agora adornam os nossos perfis e representam as nossas identidades poderão mesmo desaparecer, passando a existir apenas como memórias distantes. We Are Not Ourselves aborda este contexto contemporâneo em contínua transformação, sugerindo outras formas para criarmos as nossas identidades.