Na obra de Adriana Barreto, a relação com o corpo encontra uma genealogia multifacetada que integra as suas reflexões sobre os afetos, a palavra, o gesto, o ritmo e o corpo como processo de transformação na relação com a tensão do movimento do corpo no espaço. Todas estas formas de sentir e produzir o seu trabalho não se esgotam no que parece ser o enunciado anterior, porque estas formas não decorrem apenas de uma unidade de pensamento
configurada pela formação de base da artista, a dança, mas de uma necessidade de refletir e ultrapassar os diversos estádios do seu processo de trabalho.
A obra “O que pode um corpo”, uma performance realizada na Cristina Guerra Contemporary Art, em Lisboa, desenvolveu o seu modus operandi, e regressa a si mesma explorando outros formatos apresentados na exposição.
A fotografia, o vídeo e a edição de um livro revelam diferentes graus de registo e arquivo documental, reabilitando a atualidade do pensamento da Ética de Bento de Espinoza num questionamento filosófico sobre os limites do corpo, enquanto elemento que se reconhece pelas afeções a que é sujeito.
Conforme diz Espinoza, num determinado passo do segundo livro da Ética, “A mente humana não conhece o seu próprio corpo e não sabe que ele existe senão pelas ideias das afeções de que o seu próprio corpo é afetado.”
Adriana Barreto não pretende confrontar-nos com as questões metafísicas que se desenvolvem no pensamento de Espinoza; contudo, reconhece na atualidade desse pensamento um confronto que se põe a si mesma. O livro editado e apresentado na inauguração da exposição é simultaneamente um catálogo, um arquivo da performance com o público e uma coletânea de três textos da autoria de Alberto Saraiva, Delfim Sardo e João Silvério.
João Silvério