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A imagem, as imagens, parecem ser as indiscutíveis vencedoras do cada vez mais veloz concurso das transformações culturais ocorridas ao longo do último século. Da celebração da emergência e generalização da circulação global das imagens de novo tipo ( fotografia, cinema, televisão, digital ) passámos, na viragem do século, à constatação da afirmação e triunfo do império das imagens. Ao mesmo tempo, como decorre da natureza contraditória de todos os processos de transformação cultural, foram começando a subir de tom as denúncias da invasão por um excesso de imagens e os alertas para o perigo do afogamento dos significados e sentidos no pântano de uma infinidade de imagens tornadas cada vez mais irrelevantes pelo volume e velocidade da sua propagação epidémica. O fenómeno vem-se tornando evidente na crescente agitação das redes anti-sociais que alimentam a grande pocilga comunicacional digital ; e cuja vocação predadora e criminal só agora começa a ser discutida.
E as palavras ?
O que terá acontecido às palavras, reduzidas a um grotesco cacarejar na ponta dos dedos de jovens analfabetos e líderes néscios ? Quem vai sobrar para ler Proust ? Quem vai ter tempo para as palavras com que se faz um pensamento ou um sentimento ? Que valor e significados terá no futuro próximo a palavra “palavra” ?
Nem eu nem uma exposição saberiam responder a estas perguntas mas, tal como a respeito de tantos outros assuntos, os artistas e as obras dos artistas podem ajudar-nos a abordar e problematizar estas questões de uma forma diferente das mais habitualmente (não) utilizadas.
A presença das palavras no contexto criativo das artes plásticas é marcante nas vanguardas históricas do início do século XX, sobretudo no movimento “Dada” que até hoje permanece – provavelmente – como o mais radical da história recente da arte. Sem pretender fazer um resumo da história das palavras na história da arte do último século importará ainda referir, nos anos 1960 e 1970, a relevância das palavras nas obras concetuais e pós-concetuais e em práticas artísticas relacionadas com a ação política e a intervenção cívica ; e a importância da palavra nas obras de sucessivas gerações de artistas que revisitaram e deram continuidade a essas linhas de pesquisa.
O que aqui se apresenta, sem pretensão historiográfica, nem intenção de demonstração programática de uma tese, é uma grande diversidade de obras realizadas por autores que, cada um segundo a sua sensibilidade e no âmbito da sua linha de pesquisa, deram um lugar de destaque às palavras, e assim nos dão, a nós próprios, a possibilidade de pensar e decidir qual o valor e a atenção que queremos, ou não, continuar a conceder às palavras.
Alexandre Melo